Porto Alegre - Manaus parte 1

São muitas ideias e informações para compartilhar que nem sei por onde começar!
É indicado que tudo que façamos seja previamente organizado e sistematizado para que dê certo, não é mesmo? É isso que sempre ouvimos e confesso que concordo, mas não aplicarei esse conhecimento aqui, irei deixar que, à medida que vá acontecendo as postagens, o blog vá criando a sua própria sistemática. Já que esse mecanismo de criação de blogs é tão fácil, bastam alguns cliques para que ele fique personalizado (ou bem próximo disso) não é demais eu querer que ele se auto-organize!

Como essa ideia de reformular o antigo propósito do blog surgiu de minha última viagem, penso que é com ela que devo iniciar a nova postagem, contando como foi essa experiência amazônica pra lá de surreal. Ora pois, no mínimo devo chamá-la assim, pois para quem nunca tinha saído do mercosul, atravessar o país em algumas horas de voo e chegar a temer que não voltasse ao sul brasileiro, não é uma experiência normal, que bom :)

Mas como tudo inicia muito antes de acontecer, o começo dessa história se remete ao início de dezembro de 2011, quando em meio às minhas pesquisas para produzir textos (sim, meu ganha pão é esse e, ao invés de, nas horas vagas, fazer algum exercício, é isso que continuo fazendo para "espairecer"), eis que me deparo com aquelas promoções que você não pode negar, o destino era Manaus, mas fora da época tradicional de férias, em abril.

Como há pouco mais de um ano sou uma freelancer, não tenho mais que batalhar com a empresa o período de férias que é melhor para mim, mas meu companheiro sim e, quanto a isso, também tiramos de letra. A expectativa se estendeu por mais de quatro meses, quando, finalmente, iniciamos a nossa aventura amazônica. Ainda em Porto Alegre, algum tempo antes (como disse, concordo com a necessidade de organização prévia), reservarmos um quarto em um hostel (essa seria nossa primeira experiência em um hostel, depois de várias tentativas frustradas) e um passeio em meio à selva - o qual seria a nossa experiência não urbana. Mas tudo bem, adoro conhecer capitais (e teríamos uma semana para isso) e compará-las, por menos que isso seja possível.

A ansiedade e necessidade de deixar tudo em dia para uma viagem longa em pleno mês de abril fez com que não dormíssemos antes de decolar, o horário também não ajudou. O voo saia por volta das 5h e pouco e pelas 4h já estávamos nos encaminhando ao aeroporto. Foi uma escala em São Paulo, tudo dentro do previsto, e em meio ao frio comum dos aeroportos, eis que fomos pegos de surpresa pelo choque térmico ao sair do aeroporto de Manaus, em direção à parada de ônibus - porque táxi é para os fracos :)

Não posso negar que a nossa brancura não tenha destoado completamente do povo manauara, ao menos, foi a primeira impressão e, por consequência, a palavra turistas surgiu em nossas testas. Isso realmente não é uma coisa que me agrada, pois prefiro ser mais uma na multidão, em especial, quando conhecemos outras cidades, estados, países. Só assim sabemos como é a vida de verdade nesse outro local - e é isso o que me interessa, inclusive, a sua culinária :)

Para chegar no hostel foi barbadinha, tínhamos as coordenadas principais e quem tem boca vai à Roma e à Manaus também. Ao chegar no hostel, vimos que não se tratava exatamente do que tínhamos por hostel na cabeça, mas como já tínhamos passado por outras experiências de ir a um hostel que não se parecia com tal, a surpresa foi dentro dos limites. Mesmo cansados estávamos muito ansiosos para desbravar a cidade - e com fome - por isso saímos em busca de conhecimento - e comida. Tínhamos um mapa fora de escala - como nos avisaram, mas não sabíamos que tanto - e mais nada.

Como havia dado tudo certo até então, claro que em algum momento não daria, e foi justamente em relação ao sentido que pegamos ao sair do hostel - e não foi por culpa do mapa, porque até saímos sem ele, mas por pura falta de conhecimento. Tudo bem, conhecemos aquele outro lado da cidade, o menos turístico - e com poucos lugares para comer. Mesmo assim, obtivemos o primeiro ensinamento: o xis de Manaus é pequenininho, e eles chamam de sanduíche, embora quando tenha que escolher o sabor, deve-se colocar o X na frente, como X-salada.

Esse foi o início de tantos outros aprendizados gastronômicos. O tacacá é uma loucura, aliás, loucura é eles comerem tacacá, um caldo pra lá de quente, em plenos 40 graus. Tacacá daria certo aqui, como ainda não existe? Possui um gosto diferenciado, pois o seu preparo conta com jambu, um tipo de couve (pela aparência) que deixa a boca amortecida, uma goma feita da mandioca que dá a liga e camarões, esses são os ingredientes principais, tem mais temperos, incluindo o sal.

Para nossa alegria, peixe é o que não falta na culinária manauara, é óbvio. Comemos todos os tipos que encontramos em nossas andanças. Mas o destaque é a caldeirada de tambaqui - um tipo de peixe ensopado divino, servido com pirão (mais do que divino, feito com farinha uariri - uma entre tantas coisas que trouxemos para fazer aqui). Isso nos espantou, pois mesmo com o bafão, os restaurantes servem esses pratos e sopas diversas. Embora a época em que fomos já é considerado inverno, pois é o período de chuvas. Por volta de agosto, quando termina o período de cheias, começa o verão.

Por isso, nos dias que pegamos chuva (todos eles, mas alguns era mais intensa, para eles; para nós era uma garoa ainda) e dava uma leve refrescada e nos sentíamos melhor, o povo manauara tirava o casado do armário. Outro destaque da culinária local é o pão com ovo, queijo e tucumã. O tucumã é uma fruta redonda e amarela, que tem um caroço mega, ao redor do qual se encontra a polpa, sendo apenas uma lasquinha. A fruta em si não tem muito gosto, mas combina muito com pão, ovo e queijo. Eles são vendidos, principalmente, nas barraquinhas de lanches, junto com o kikão (nosso cachorro quente), que recebe um molho menos vermelho e com muita cebola, além de uma salsicha e queijo - quase um pancho (cachorro quente uruguaio).    

Aliás, barraquinha de lanches é o que não falta, inclusive, ao redor das escolas e faculdades, o que tinha muito na rua onde ficamos hospedados. A avenida Getúlio Vargas separa o centro da cidade dos demais bairros e é nela onde estão todas as paradas de ônibus no sentido centro - bairro. Para ter uma ideia, imaginem se na Salgado Filho porto alegrense passassem todos os ônibus da cidade, em grupos de quatro paradas. Nunca ficamos na parada menos de meia hora, eles até podem ter passado antes, mas não vimos, o que é normal, já que muitos só param se você fizer sinal (se você ver o ônibus e o motorista ver que você fez sinal). Naquele trânsito, até o atropelamento de uma pedestre que não atravessou na faixa presenciamos, ah, por um carro, ali passam carros também,e mesmo sendo uma avenida de duas mãos, os ônibus todos passam de um lado só, no mesmo sentido. :)

Voltando à gastronomia, não são apenas carrinhos de lanche que tem pelas ruas, mas bancas com mesas de pratos típicos, como buffet. Além de comida chinesa, yakisoba e rolinhos primaveras, em barraquinhas nas calçadas, servidos pelos próprios chineses, que nem sempre falavam bem o português. A comida chinesa também está em muitos restaurantes, inclusive, há locais em que existe um buffet de comida chinesa e outra de comida típica. Outra gastronomia muito presente é a árabe. Ou seja, me dei bem :)

Ah, os sorvetes: de acaí, taperebá, cupuaçu, graviola, tapioca, tucumã, acerola e muito mais. Cerveja boa e barata: Cerpa, produzida no Pará. No próximo post continuo com mais delícias e também vale lembrar dos museus de Manaus e do rock 'n roll.

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