Porto Alegre rumo ao Paraguai - Parte 2
Teoricamente, você não sai para um grande passeio em meio à mata se estiver chovendo, porém, se os seus planos devem ser friamente seguidos, nem sempre se tem outra opção. Além disso, não acredito que os parques tenham que possuir mega estruturas como o parque nacional do Iguaçu, porém, o parque do Turvo não possui a mínima infra para receber os visitantes e, por isso, provavelmente, quando falamos o seu nome e o do próprio salto do Yucumã nos olham com grande surpresa o.0.
Ou seja, na nossa noite em Derrubadas começou a chover forte, e tínhamos que ficar felizes, pois a região estava sem chuva há mais de meses, porém, egoisticamente estávamos temerosos que a chuva forte não passasse, estragando os nossos planos de conhecer o salto. No entanto, se ficássemos mais uma noite em Derrubadas, nosso roteiro sofreria um atraso, além do camping onde estávamos não dispor de uma cabana vaga para aquela noite, o que não era o problema maior, pois os proprietários muito solícitos nos ofereceram um quiosque e um colchão.
Mesmo assim, o melhor seria arriscar conhecer o parque naquelas condições, já que além de "perder" um dia, tinha como agravante o fato da escassez de horários de ônibus, etc. De tarde, a chuva ficou fina e conseguimos uma carona até o centro de Derrubadas. No entanto, de lá até a entrada do parque são 4 km, ok, uma boa caminhada, mas da portaria do camping até o salto propriamente dito, são quase 20 km, ou seja, impossível de chegar lá em pouco tempo, e com o agravante da chuva fizemos a coisa que mais "me doeu na alma", pegar um táxi, não só pela grana que tivemos que desembolsar, mas porque conhecer um parque de táxi é a coisa mais Uó! do mundo!.
Enfim, no final das contas, ficamos maravilhados com a beleza do Yucumã, que poderia ser maior, não fossem as comportadas de uma hidrelétrica próxima que estavam abertas, fazendo a queda do salto ficar bem menor do que geralmente é. Detalhe aos desavisados: existem planos já bastante concretos de se fazer uma outra hidrelétrica perto, o que vai eliminar totalmente o salto, por isso, se quiserem conhecer esse deslumbrante lugar, se agilizem. Além dos salto, do outro lado da margem, estava a Argentina e em breve chegaríamos lá!
Depois de voltar ao centro de Derrubadas e eu já estar disposta a voltar à Tenente Portela a pé, percorrendo 18 km, pois me negaria a gastar mais dinheiro com táxi, conseguimos uma carona bem mais em conta que um táxi até a cidade, da onde pegaríamos um ônibus para Santa Rosa, na manhã seguinte. Como já se aproximava a noite, decidimos não ficar em hotel naquela noite e ficar na rodoviária mesmo, onde deixamos nossas mochilas e fomos dar mais uma banda por Tenente Portela, é claro que voltamos ao bar com a cerveja barata. Mais tarde, fomos para a rodoviária, pois nos disseram que ela ficava aberta, mas isso não queria dizer que tinha alguma coisa aberta ou pessoas por lá.
Assim, ficamos lendo e tentando dormir nos bancos duros e estreitos da ante sala do banheiro feminino, o lugar que nos pareceu mais seguro. Na madrugada, voltamos para a pracinha da cidade, já com poucos bares abertos e já menos amistosos, um garoto foi para cima de uma guria, daí foi aquele bolor e resolvemos voltar à rodoviária deserta e sinistra, aquela que disseram que ficava um guarda e que até o momento não tinha chegado. Umas três horas antes da rodoviária abrir oficialmente ele apareceu e o "cagasso" só não foi maior porque logo vimos que se tratava do tão esperado guarda.
Depois de justificar porque estávamos ali, quase dentro do banheiro feminino, ele destravou a língua e contou histórias sobre a sua vida, que eu poderia escrever um livro, inclusive, como aquela rodoviária era frequentada por arruaceiros de todo o tipo, desde algumas semana atras. Ufa!. Esse guarda era um senhor franzino (sempre quis descrever alguém assim, "franzino", que gostava de um papo, ou melhor, de falar mesmo, e, ao mesmo tempo que contava suas histórias, fazia grandes reflexões sobre a vida - uma figura!, entre tantas outras que cruzaram o nosso caminho). No raiar do dia, que não foi assim um grande raiar, porque amanheceu chuviscando, tomamos nosso café da manhã e rumamos à Santa Rosa, ou quase, mas a aventura só estava começando!





